sábado, 6 de julho de 2013

mais que sexo, finança arruina casamento

SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo

É mais difícil falar de dinheiro, entre marido e mulher, do que de sexo. Chamar o parceiro para uma conversa sobre o estouro do cartão de crédito e do cheque especial -dela ou dele- é tão desgastante quanto um convite para "discutir a relação".

"Falar de sexo é fácil, não há mais tabu sobre o tema. Mas falar de dinheiro envolve emoções profundas, e um processo desses, se mal conduzido, gera animosidade e uma sucessão de conflitos que podem terminar em divórcio", diz a consultora financeira Cássia D'Aquino Filocre.

Segundo ela, metade dos casamentos americanos termina por divergências em relação ao uso do dinheiro.

No Brasil, não há estatísticas que relacionem o fim dos casamentos com a questão financeira, mas ela está muito presente, pelo menos, no início da vida conjugal. Segundo dados do IBGE, é o dinheiro que comanda, de maneira crescente, a escolha da data do casamento no país.

O tradicional mês das noivas, maio, foi desbancado pelo mês do 13º salário nos últimos anos. "Desde o início dos anos 90 vemos um crescimento do número de casamentos no mês de dezembro e um declínio em maio", diz Antônio Tadeu Oliveira, gerente de estatísticas vitais do IBGE.

Se para chegar ao altar o brasileiro consulta o saldo bancário e se programa financeiramente, passada a lua-de-mel, esquece esse hábito.

"É muito difícil discutir questões financeiras dentro do casamento, pois as pessoas têm concepções diferentes sobre como lidar com o dinheiro", diz Sandra Blanco, diretora do site financeiro Mulherinvest.

"Em geral, um é gastador, e o outro, poupador. O choque dessas duas concepções gera atritos, estresse e abala, inclusive, a vida afetiva e sexual", acrescenta. " Isso ocorre porque a forma como as pessoas se relacionam com o dinheiro é muito emocional", afirma Filocre.

Na ausência de planejamento e diálogo, o dinheiro vira uma forma de um infernizar a vida do outro. "O pior são os jogos que os casais armam. Tem gente que mantém um caixa dois longe das vistas do parceiro, e, ainda hoje há mulheres que "roubam" dinheiro do marido", diz Filocre.

Segundo a consultora, mesmo mulheres que têm renda própria, às vezes até maior do que a do parceiro, lançam mão de artifícios das nossas avós e surrupiam trocados das carteiras dos maridos. Na opinião de Filocre, em algum lugar do inconsciente feminino é muito difícil aceitar que o homem não é o provedor, o "expert" em gerar renda para a família.

No divã
Finanças e psicologia são combinação incomum, mas eficaz. Especialmente quando dentro do casal um é gastador compulsivo.

Segundo o psicanalista José Antonio Pinotti, especialista em psicoeconomia, casamentos em que um dos pares é perdulário são comuns em todas as classes sociais. "E não há diferenciação entre os sexos: tanto o homem quanto a mulher podem ser consumidores vorazez", diz ele.

Para o psicanalista, a única forma de enfrentar a gastança dentro do casamento é mostrando ao gastador que ele é um "doente social". O perdulário, segundo ele, é alguém com crise de identidade que se afirma no consumo. "Há um componente psíquico que é a voracidade. Todo gastador é um eufórico, que é a antítese do depressivo", explica.

Pinotti descreve o eufórico como alguém que age de forma compulsiva, impensada e rápida. Pior: é refratário à criticas e conselhos.

Ele conta o caso de um dos seus pacientes, um bem sucedido médico de 38 anos, que ao longo de dez anos de carreira conseguiu poupar R$ 800 mil. "Apaixonou-se por uma moça que conheceu em um "single bar" e em dois meses torrou toda a poupança de uma vida", conta.

Segundo Pinotti, o médico seduziu a mulher pelo dinheiro: na primeira semana levou-a para Cancún, no México. Depois era um tal de fretar jatinho para viajar para lá e para cá, numa "euforia alucinada".

Resultado: casaram-se, quebraram pouco tempo depois, e hoje fazem terapia de casal, tentando juntar os cacos.




fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u44487.shtml

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